quarta-feira, 1 de maio de 2013



H
avia, ao lado do poço, a ruína de um velho muro de pedra. Quando voltei do trabalho, no dia seguinte, vi, de longe, o meu pequeno príncipe sentado no alto, com as pernas balançando. E eu o escutei dizer:
- Tu não te lembras então? Não foi bem este o lugar!
Uma outra voz lhe respondeu, porque ele replicou em seguida:
- Não! Não estou enganado. O dia é este, mas este não é este lugar...
Prossegui em direção ao muro. Não enxergava nem ouvia ninguém a não ser ele... No entanto, o principezinho replicou novamente:
- Está bem! Tu verás na areia onde começam as marcas dos meus passos. Basta me esperar. Estarei lá esta noite.
Estava a vinte metros do muro e continuava a não ver nada. O pequeno príncipe disse ainda, após um silêncio:
- O teu veneno é do bom? Estás certa de que não vou sofrer por muito tempo?
Parei, o coração apertado, ainda sem compreender nada.
- Agora, vai te embora... – disse ele. – Eu quero descer!
Então, baixei os olhos para o pé o do muro e dei um salto! Lá estava, erguida para o principezinho, uma dessas serpentes amarelas que nos liquidam em trinta segundos. Rapidamente procurei o revólver no bolso. Mas, percebendo o barulho, a serpente deslizou na areia, como um esguicho de água que de repente seca, e vagarosamente se enfiou entre as pedras com um leve tinir metálico.
Cheguei ao muro a tempo de segurar nos braços o meu caro príncipe, pálido como a neve.
- Que história é essa? Tu conversas agora com as serpentes?
Afrouxei o nó do lenço dourado que ele sempre usava no pescoço. Molhei sua testa. Dei – lhe de beber. E agora não ousava perguntar – lhe mais nada. Olhou- me seriamente e abraço o meu pescoço. Sentia seu coração bater de encontro ao meu, como o de um pássaro morrendo, atingido por um tiro. Ele me disse:
- Estou contente de teres consertado o defeito de tua máquina. Vais poder voltar pra casa...
- Como soubeste?
Eu vinha justamente avisar- lhe que, contra toda expectativa, havia conseguido realizar o conserto!
Ele não respondeu à minha pergunta, mas acrescentou:
- Eu também volto hoje pra casa...
Depois tristonho, disse:
- É bem mais longe... bem mais difícil...
Eu percebia claramente que algo de extraordinário se passava. Apertava- os nos braços como se fosse uma criancinha; mas tinha a impressão de que ele ia deslizando num abismo, sem que eu nada pudesse fazer para detê – lo.
Seu olhar estava sério, vagando no além:
Tenho o teu carneiro. E a caixa para o carneiro. E a mordaça...
E ele sorriu com tristeza.
Esperei muito tempo. Sentia que seu corpo, aos poucos, se reaquecia:
- Meu caro, tu tiveste medo...
É claro que tivera. Mas ele sorriu docemente.
- Terei mais medo ainda esta noite...
O sentimento do irremediável me fez gelar de novo. E eu compreendi que não poderia suportar a idéia de nunca mais escutar seu riso. Ele era para mim como uma fonte no deserto.
- Meu caro, eu quero ainda escutar o teu riso....
Mas ele me disse:
- Faz já um ano esta noite. Minha estrela estará exatamente sobre o lugar onde cheguei no ano passado...
- Meu caro, essa história de serpente, de encontro marcado, de estrela, não passa de um pesadelo, não é mesmo?
Mas ele não respondeu à minha pergunta. E disse:
- O que é importante você não vê...
- Sim, eu sei...
- É como com a flor. Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, é bom de noite olhar o céu. Todas as estrelas estão floridas.
- É verdade...
- É como a água. Aquela que me deste para beber parecia música, por causa da roldana e da corda... Lembras- te como era boa?
- Sim, lembro- me...
- À noite, tu olharás as estrelas. Aquela onde moro é muito pequena para que possa te mostrar. É melhor assim. Minha estrela será para ti qualquer uma das estrelas. Assim, gostarás de olhar todas elas... Serão todas suas amigas. E, também, eu te darei um presente...
Ele riu outra vez.
- Ah! Meu caro, meu querido amigo, como eu gosto de ouvir esse riso!
- Pois é ele o meu presente... será como a água...
- Que queres dizer?
- As pessoas veem estrelas de maneira diferente. Para aqueles que viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para os sábios, elas são problemas. Para o empresário, eram ouro. Mas todas essas estrelas se calam. Tu porém, terás estrelas como ninguém as teve...
- Que queres dizer?
- Quando olhares o céu a de noite, eu estarei habitando uma delas e de lá estarei rindo; então será para ti como se todas as estrelas rissem! Desta forma, tu, e somente tu, terás estrelas que sabem rir!
E ele riu mais uma vez.
- E quando estiveres consolando (a gente sempre se consola), tu ficarás contente por ter me conhecido. Tu serás sempre meu amigo. Terás vontade de rir comigo. E, às vezes abrirás tua janela apenas pelo simples prazer... E teus amigos ficarão espantados de ver – te rir olhando o céu. Tu explicarás então: “Sim, as estrelas, elas sempre me fazem rir!” E eles te julgarão louco. Será como uma peça que te prego...
E riu de novo.
- Será como se eu te houvesse dado, em vez de estrelas, montes de pequenos guizos que se sabem rir...
E riu de novo. Depois, ficou sério:
- Esta noite... por favor... não venhas.
- Eu não te deixarei.
Eu parecerei estar sofrendo... parecerei estar morrendo. É assim. Não venhas ver. Não vale a pena...
- Eu não te abandonarei.
Mas ele estava preocupado.
- Se eu te peço isto... é também por causa da serpente. As serpentes são más. Podem morder apenas por prazer...
- Eu não te abandonarei.
Mas uma coisa o tranquilizou:
- É verdade que elas não têm veneno para uma segunda mordida...
Naquela noite, não o vi partir. Saiu sem barulho. Quando consegui alcança-lo, ele caminhava decidido, num passo rápido. Disse- me apenas:
- Ah! Aí estás...
E segurou minha mão. Mas preocupou-se de novo:
- Fizeste mal. Tu sofrerás. Eu parecerei estar morto e isso não é verdade...
Eu me calara.
- Tu compreendes. É muito longe. Eu não posso carregar este corpo. É muito pesado.
Continuava calado.
- Mas será como uma velha concha abandonada. Não tem nada de triste numa velha concha...
Fiquei mudo.
Perdeu um pouco da coragem. Mas ainda fez um esforço:
- Será lindo, sabes? Eu também olharei as estrelas. Todas as estrelas serão como poços com uma roldana enferrujada. Todas as estrelas me darão de beber...
Eu continuava mudo.
- Será tão divertido! Tu terás quinhentos milhões de guizos, eu terei quinhentos milhões de fontes...
E ele também se calou, porque estava chorando...
- É aqui. Deixe- me ficar só.
E sentou- se, porque tinha medo. Disse ainda:
- Tu sabes... minha flor... eu sou responsável por ela! Ela é tão frágil! Tão ingênua! E tem apenas quatro pequenos espinhos para defendê-la do mundo.
Eu me sentei também, pois não conseguia mais ficar de pé.
Ele disse:
- Pronto... É isso...
Hesitou mais um pouco, depois levantou- se. Deu um passo. Eu... eu não podia mover- me.
Houve apenas um clarão amarelo perto da sua perna, por um instante, imóvel. Não gritou. Tombou devagarinho como tomba uma árvore. Nem fez sequer barulho, por causa da areia.
(trecho do livro O PEQUENO PRÍNCIPE de ANTÔNIO DE SAINT-EXUPÉRY)

Estes dias, eu estava lendo O Pequeno princípe...engraçado que certas palavras que li, neste livro tão famoso e tão antigo, parece que foram feitas exatamente para o que eu sinto neste momento...




O capítulo que transcrevir foi o que mais tocou meu coração. Fiquei imaginando o meu filho me dizendo todas as palavras que o pequeno príncipe falou, imaginei meu anjo se despedindo de mim, dizendo que tinha que partir, pois ele não era desse mundo e alguém o esperava no céu... Deus o esperava, Ele apenas me deu a chance de sentir o meu anjo em meus braços, de amamentá -lo de mostrar- me que sou capaz de ser mãe, de cuidar de um ser tão frágil, mas como um verdadeiro Anjo me ensinou a carregar esse amor tão forte e puro em meu peito. 
Este amor ficará para sempre comigo, as lembranças são fortes, sonho todos os dias em reencontrar esse lindo bebêzinho, abraça-lo, beijá-lo, sentir aquele perfumado cheirinho de bebê e olhar em seus lindos olhos castanhos, um olhar que me marcou e jamais esquecerei. Eu te amo Miguel!!!!

 

2 comentários:

  1. Boa Tarde querida amiga Mirlene!

    Tudo certinho com você?
    Graças à Deus eu tenho amigas especiais como você que me tiram do chão!
    Lindo texto amiga! Assim que terminamos de ler, parece que fortalece a nossa alma, né? Adorei!

    Muito Obrigada pelo carinho!
    Tenha uma ótima e abençoada semana!
    Beijinhos no coração... TATIANA BERTOLIN

    casinhadasgifs.zip.net

    ResponderExcluir
  2. Oi querida...
    Mias tarde vou dar um pulinho para tentar conhecer sua história...
    Mas que Deus te proteja sempre, e que sua dor diminua e se transforme em saudades...
    Se precisar, pode contar comigo sempre...
    Bjs

    ResponderExcluir